Por que ser um Facilitador da Lei do Tempo?

Tempo, um livro da sua própria história e o guardião do futuro.

A última era geológica culminou em 13 mil anos de glaciação. A mudança climática testou a inteligência e a biotecnologia humana, que também atravessavam uma era antropológica. Juntamente com o amanhecer da era sapiens, a era glacial desafiou o humano a desenvolver meios de sobrevivência. A mente instintiva priorizou o abrigo, os alimentos e a sustentação do fogo. Conectados principalmente pela caça e pela coleta de sementes e frutos, os grupos humanos sobreviveram porque se socializaram e cooperaram entre si.

Na atualidade, alcançamos condições de vida bem mais confortáveis, mas há, paradoxalmente, uma tendência a viver no conflito. Isso se deve não somente à competitividade, que tomou o lugar da cooperação, como também à aceleração da vida e ao profundo esquecimento da nossa origem. Passados 26 mil anos, atingimos o máximo de conforto jamais obtido, mas seguimos apenas sobrevivendo.

Toda zona de conflito surge na mente e se estende até suas próprias fronteiras. À medida que o esquecimento da origem avança a passos largos no estilo moderno, o sistema tenta moldar cada um de nós com seus valores: automatização, alta velocidade e alta performance, produzindo ainda mais esquecimento e distanciamento da realidade. Quanto maior o esquecimento, maior a dependência e o consumo — e maiores as necessidades que, no final, nutrem apenas o próprio sistema, que vai mudando velozmente a estrutura planetária.

Após a era glacial, o estilo de vida nômade, que encontrou lindas paisagens para experimentar a comunhão com a terra e com o cosmos, foi cedendo lugar ao sedentarismo. Nos tempos da comunhão do homem com a terra, surgiram as culturas baseadas no florescimento artístico, científico e espiritual. Ritos de passagem, medicinas, sistemas de contagem do tempo, práticas culturais e conhecimentos transmitidos por gerações, através de cânticos e ritos, nutriram os primeiros passos de estilos de vida que construiriam as bases do que somos hoje. Ainda que acreditemos que o que vivemos na pré-história esteja distante e seja passado, nossa memória genética permanece com sede de integração e recordação. A história da Terra está escrita nas redes magnéticas de toda a diversidade, para ser lida em silêncio por meio do livro do tempo.

O aquecimento global é o oposto da era glacial: um gela, o outro aquece. Considerando que estamos à beira de uma grave crise climática, estamos, sem dúvida, próximos também do surgimento de uma nova era antropológica, caracterizada pelo ciclo da ebulição do pensamento, em que cada pensamento contribui para o efeito estufa e para o aquecimento global.

Para o cientista norte-americano Carl Sagan, o entendimento dos ciclos era uma “questão de vida ou morte para a espécie humana”. Por meio da utilização de sistemas calendáricos, os nossos antepassados puderam colher frutos e sementes, cultivar a terra, respeitar os ciclos reprodutivos, caçar as manadas nas pradarias, domesticar os animais e estabelecer as bases do conhecimento. Inúmeros calendários foram construídos ao longo da pré-história para medir os ciclos do tempo, baseados nos ciclos do Sol, das constelações, do planeta e das luas e suas fases.

Sistemas monumentais como Stonehenge, a Porta do Sol de Tiahuanaco, a pirâmide de Chichén Itzá e os impressionantes calendários Anasazi são alguns exemplos de como o tempo da natureza era cultivado como uma entidade espiritual, que doava e guiava a evolução da vida no planeta. Tudo isso contrasta com o que vivemos hoje: alienados no tempo, sem sequer questionarmos de onde e como surgiu o calendário que utilizamos quase que globalmente — o calendário gregoriano.

Desde 1582, seguimos um modelo de calendário calcado no antigo calendário romano, o qual, graças ao papa Gregório XIII, foi reformulado e adotado como calendário litúrgico. Imposto pelo Vaticano durante a conquista europeia, que mudou o rosto do mundo, o calendário gregoriano foi transformando culturas e organizando a sociedade humana em torno das datas comemorativas católicas e do seu psicossistema de crenças. Na verdade, o calendário gregoriano é uma atualização do sistema de calendas, criado a partir da geometria de um círculo plano dividido em 12 partes iguais. Ele foi utilizado no amanhecer da história como instrumento de cobrança de impostos.

Reformulado com a ajuda de matemáticos, o calendário gregoriano ganhou mais força com a popularização do relógio, que surgiu apenas alguns anos mais tarde, com a mesma estrutura baseada no círculo plano dividido em 12 partes iguais. Ambos os instrumentos tornaram-se uma poderosa convenção sobre o tempo, gerando uma frequência constante conhecida por 12:60 (12 meses, 60 minutos). Tanto o calendário gregoriano como o relógio mecânico foram os primeiros instrumentos e formas de pensamento a alcançarem o globo. Esse evento modificou a relação do homem com o tempo e, consequentemente, o seu estilo de vida.

No filme O Ponto de Mutação, inspirado no livro do físico americano Fritjof Capra, existe uma narrativa sobre o início da revolução industrial. O filme apresenta uma reflexão coerente sobre a hipótese de que o relógio tenha sido a primeira máquina a ser criada e utilizada em grande escala, provocando a mecanização do pensamento e, consequentemente, da vida. É por meio deste processo que surgiu a revolução industrial. Apenas 400 anos se passaram desde o surgimento do relógio — tempo suficiente para mudar a vida planetária e colocar a civilização global em estado de alerta. Estima-se que, somente nos últimos 40 anos, mais de 700 animais tenham sido extintos no planeta. Só a Amazônia perdeu mais de 50 mil km² de florestas nos últimos 5 anos.

A mecanização do tempo interferiu diretamente na mente humana, tornando-a distante da sua origem — a natureza —, e provocando as grandes crises ambientais, econômicas e ideológicas. O fato de termos incorporado um sistema de máquinas para organizar nossas vidas fez com que nos tornássemos seres vivendo no automatismo e na alienação da natureza. Aceleramos mais a cada dia, com receio de ficar para trás. Criamos o paradigma de que “tempo é dinheiro”, construímos inúmeras zonas de conforto material e agora estamos pedindo socorro espiritual para superar a ansiedade, o medo, a depressão, as neuroses e o desequilíbrio. Mas será que ainda podemos retornar à natureza do tempo e à natureza da mente?

Desde o surgimento da era industrial, o processo civilizatório foi ganhando o rosto da globalização e perdendo a face da natureza. Há 70 anos, o estilo de vida era basicamente agrícola e, ainda que as atividades sociais já estivessem sendo regidas pelo tempo gregoriano, nossa relação com os ciclos da natureza era perpetuada justamente pelo entendimento dos fluxos naturais e pela aplicação do conhecimento desses ciclos às atividades agrícolas. Estima-se que, no Brasil, somente na década de 70, 12,5 milhões de brasileiros tenham migrado para a cidade, deixando para trás o silêncio profundo do campo, as águas puras das fontes e o estilo de vida baseado no conhecimento transmitido de geração em geração. A vida ilusória do sistema mecanizado seduzia e escravizava o homem rural com a promessa de conforto, agilidade e oportunidades. Não sabíamos que, logo ali à frente, enfrentaríamos o aumento das doenças físicas e mentais, e que nos tornaríamos dependentes de sistemas e governos em decadência moral. Assim como compreender o tempo após a grande glaciação foi crucial para a sobrevivência humana, compreender o tempo pode ser, novamente, crucial para sobrevivermos e para ajudarmos efetivamente na regeneração planetária.

Quando entendermos que o problema está na mente e que somente quando harmonizarmos a mente iremos harmonizar o mundo, compreenderemos o que, de um lado, nutre e liberta a mente, e o que, de outro, acaba por contaminá-la. Neste último caso, o agente poluente é o tempo mecanizado e suas extensões; e o agente libertador é o tempo natural.

Mude o tempo, mude a sua mente. O tempo é para a mente o que a água é para o corpo. Quanto mais natural for o tempo, mais natural será a mente e, consequentemente, a mente ressoará com mais harmonia, integridade, expansão e amor.

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