O Calendário de Sincronização Galáctica: Uma Entidade Distinta do Calendário Maia

Texto de Gustavo Nogueira* | @gustnogm | temporalitylab.com

O Calendário de Sincronização Galáctica, um conceito desenvolvido por José Argüelles com base em sua pesquisa e trabalho sobre o que ele nomeou a Lei do Tempo, é frequentemente confundido com o Calendário Maia devido às suas raízes na cosmologia maia. No entanto, é crucial entender que esses dois sistemas, embora interconectados, são entidades fundamentalmente diferentes.

José Argüelles, foi um estudioso e artista, dedicou sua vida ao estudo do tempo e suas várias interpretações em diferentes culturas. Seu trabalho levou à criação do Calendário de Sincronização Galáctica, um sistema que busca alinhar a consciência humana com os ciclos do universo. Este calendário não é uma tradução direta ou adaptação do Calendário Maia, mas sim uma síntese inovadora de vários sistemas culturais de medição do tempo, incluindo os maias, africanos, hindus e islâmicos.

O Calendário Maia é um sistema complexo desenvolvido pela antiga civilização maia, profundamente enraizado em seu entendimento cultural, espiritual e astronômico. É um produto de sua visão de mundo e sabedoria únicas, que devem ser respeitadas e preservadas em sua forma original. O Calendário de Sincronização Galáctica, por outro lado, é um constructo moderno que se inspira no sistema maia, mas incorpora elementos de outras culturas e os próprios insights de Arguelles sobre a natureza do tempo.

A ambivalência surge quando consideramos a importância de preservar a sabedoria original das culturas indígenas, como os maias, e o valor das interpretações inovadoras como o trabalho de Arguelles. Embora seja crucial respeitar e proteger a sabedoria original das culturas indígenas, é igualmente importante reconhecer as contribuições de estudiosos como Arguelles, entre muitos outros, que ampliaram nosso entendimento do tempo ao observar as sincronicidades entre diferentes culturas.

O trabalho de Argüelles no Calendário de Sincronização Galáctica não é uma tentativa de apropriar-se ou substituir o Calendário Maia. Em vez disso, é uma investigação a partir da sabedoria de vários povos antigos que dizem que os nossos ancestrais vieram das estrelas. A ciência chama essa ideia de panspermia. Eu vejo nesse trabalho um esforço para unir divisões culturais e um chamado para nos alinharmos com os ritmos universais. Seu trabalho serve como um lembrete de que, embora devamos respeitar e proteger a sabedoria das culturas originais, também podemos apreciar a beleza do diálogo intercultural e os novos insights que ele traz.

Por outro lado, é fundamental refletir sobre os impactos da apropriação cultural em povos originários. A apropriação cultural ocorre quando elementos significativos de uma cultura são adotados por outra, geralmente dominante, sem o devido respeito ou compreensão de seu contexto original e significado. Isso pode resultar na diluição, distorção e até mesmo na erradicação de práticas e tradições culturais autênticas. No caso dos povos originários, cujas culturas já foram historicamente marginalizadas e suprimidas, a apropriação cultural pode agravar as injustiças existentes, perpetuando estereótipos prejudiciais e negando a eles o direito de serem os únicos guardiões e intérpretes de sua própria herança cultural. Portanto, ao buscar inspiração nas tradições e sabedorias de outras culturas, é essencial fazê-lo de maneira respeitosa e consciente, garantindo que as vozes e direitos dos povos originários sejam sempre respeitados e protegidos.

Embora o Calendário de Sincronização Galáctica e o Calendário Maia compartilhem raízes e influências comuns, eles são entidades distintas com diferentes propósitos. O primeiro é uma interpretação moderna e síntese de vários sistemas culturais de medição do tempo, enquanto o último é um sistema antigo profundamente enraizado na sabedoria maia e que só aquele povo pode falar em seu nome. Reconhecer essa distinção é crucial para apreciar tanto a sabedoria original dos maias quanto as contribuições inovadoras de José Arguelles do Tempo como Arte.

A importância do trabalho de Arguelles ganha uma nova dimensão contemporânea quando consideramos as questões urgentes do mundo atual e as necessárias transformações em nossos modos de vida e temporalidades. Em um momento em que a humanidade enfrenta desafios sem precedentes, desde crises climáticas a conflitos sociais, a perspectiva de Arguelles oferece uma alternativa revolucionária para a forma como percebemos e interagimos com o tempo.

Ao adotar a visão de que outros seres não humanos, o planeta, o sol, as estrelas, nossa galáxia e, fundamentalmente, o cosmos são entidades vivas, começamos a perceber a interconexão profunda e intrínseca de todas as coisas. Esta consciência nos permite reconhecer que não somos entidades isoladas, mas partes integrantes de um organismo cósmico maior. Isso nos convida a reconsiderar nossas ações e a forma como elas afetam o mundo ao nosso redor, incentivando um modo de vida mais harmonioso e sustentável.

A visão de Arguelles, portanto, não é apenas uma nova maneira de entender o tempo, mas também um chamado à ação. É um convite para transformar nossas vidas e sociedades, alinhando-nos mais estreitamente com os ritmos naturais do universo e reconhecendo nossa responsabilidade compartilhada para com todos os seres vivos. Em um mundo cada vez mais marcado por divisões e desequilíbrios, a perspectiva de Argüelles oferece uma visão unificadora e apaziguadora (por isso é também conhecido como Sincronário ou Calendário da Paz) que pode ser a chave para a transformação necessária.

Chamam de Lei do Tempo, um nome pautado na teoria que é resultado do trabalho dele, pesquisador e artista, que afirma que o Tempo É Arte. Eu sei que é mais fácil dizer “o calendário maia” para simplificar esse modo distinto de olhar para o tempo e para sincronização com os ciclos galácticos, mas não é assim que a própria comunidade de estudos se refere a esse saber e é importante refletirmos sobre quem esta simplificação impacta, favorece e/ou prejudica.

Lembrando que não nos relacionamos com o tempo, mas somos feitos de tempo, é a matéria prima que constitui a todos nós. Somos o tempo. Qual a tua proximidade com esses estudos? Qual tem sido a importância dessa observação dos ciclos dos dias na tua vida? Qual a tua proximidade com os modos de vida originários? Reflexões que compartilho com você nesse dia de hoje. Bom dia, viajante.

Gustavo Nogueira

Instagram: https://www.instagram.com/gustnogm

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